A Resiliência do Silêncio
Rui Faria
Havia uma figura discreta que percorria os corredores daquela empresa cinzenta. Seu nome, Augusto, era apenas um eco nos corações dos colegas de trabalho. Ele não era o chefe carismático, nem o funcionário exemplar que ganhava prêmios. Não, Augusto era o homem que se escondia atrás das planilhas, o rosto que se perdia na multidão.Por décadas, Augusto dedicou-se à sua profissão. Seus dedos dançavam sobre o teclado, criando relatórios meticulosos, enquanto sua alma permanecia escondida nas entrelinhas. Ele nunca almejou os holofotes; sua satisfação vinha da tarefa bem executada, do dever cumprido.Mas o reconhecimento? Ah, esse lhe escapava como areia entre os dedos. Os aplausos eram reservados aos que gritavam mais alto, aos que se autopromoviam com eloquência. Augusto, por sua vez, era o silêncio personificado. Seu trabalho era como uma sinfonia tocada em uma sala vazia: bela, mas sem plateia.