Olhos d
Eduardo edugoferr
Uma noite, acordei com uma pergunta pulsante: “De que cor eram os olhos de minha mãe?” A questão me atormentava, pois, apesar de lembrar cada detalhe do seu rosto, a cor dos seus olhos me escapava.Minha mãe, a matriarca de sete filhas, era o pilar da nossa família. Cresci observando-a, aprendendo a interpretar seu silêncio e seus gestos. Ela era a rainha dos nossos jogos infantis, a Senhora que transformava a fome em festa, distraindo-nos com histórias e brincadeiras. Seu riso, mesmo tingido de tristeza, era o som mais doce, e suas lágrimas, embora frequentes, nunca ofuscavam o brilho de sua força.As memórias da infância dela em Minas Gerais se entrelaçavam com as minhas. Ela cozinhava sonhos quando a comida era escassa, e nos ensinava a ver beleza nas nuvens, transformando-as em doces imaginários para saciar nossa fome de criança.Os dias de chuva revelavam seu medo, mas também sua proteção inabalável. Ela nos abraçava forte, rezando para Santa Bárbara, enquanto a tempestade rugia lá fora. Naqueles momentos, os olhos dela refletiam a natureza: chovia e chorava com ela.Anos se passaram, e a distância entre nós só aumentou minha necessidade de relembrar a cor dos olhos dela. Decidi voltar para casa, para fixar em minha memória o olhar que tanto me definia.Ao reencontrá-la, vi lágrimas que pareciam rios caudalosos, mas também um sorriso de felicidade genuína. Compreendi, então, que os olhos de minha mãe eram como águas correntes, águas de Mamãe Oxum, profundas e serenas.Hoje, olho nos olhos de minha filha e vejo o reflexo da minha mãe. Ensinamos uma à outra a ver além das aparências, perpetuando o legado de amor e sabedoria materno. E quando minha filha toca meu rosto e pergunta sobre a cor úmida de meus olhos, sei que a história de nossa família continuará através dela.