1. Contextualização histórica e social da fome no BrasilA fome no Brasil é um fenômeno estrutural e histórico, amplamente vinculado às desigualdades socioeconômicas. Embora tenha sido reduzida em determinados períodos de crescimento econômico e implementação de políticas sociais, como ocorreu nos anos 2000, crises econômicas e políticas recorrentes têm provocado seu agravamento. A pandemia de covid-19, declarada em 2020, catalisou um processo de precarização das condições de vida da população mais vulnerável, resultando no alarmante número de 33 milhões de pessoas em situação de fome em 2022. Esse cenário repete o número registrado em 1992, quando a fome foi tratada como um escândalo ético pelo Movimento pela Ética na Política, destacando a reincidência do problema.2. Impacto desproporcional em mulheres e criançasO perfil das famílias mais afetadas pela fome revela a persistência de desigualdades sociais profundas. Lares chefiados por mulheres, especialmente as que são pretas e pardas, figuram entre os mais atingidos pela insegurança alimentar. Isso reflete não apenas as desigualdades de gênero, mas também as raciais e regionais, sendo mais prevalente no Norte e Nordeste do país. Adicionalmente, a fome afeta desproporcionalmente crianças e jovens, conforme indicam os dados do II Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar. A vulnerabilidade dessas populações agrava o ciclo intergeracional da pobreza, comprometendo o desenvolvimento social e econômico futuro do Brasil.